segunda-feira, 26 de agosto de 2013

E agora um soneto...

Oii Gente!!

Hoje eu trouxe um soneto que escrevi a algum tempinho, gosto dele pois é inspirado em um fato real, um atropelamento, na Estrada Rio-Petrópolis. O acidente se deu com uma senhora grávida, acidente que poderia ter sido evitado se a vítima tivesse usado a passarela de pedestres a poucos metros da travessia perigosa. A criança que esperava foi expelida no asfalto e sobreviveu ao acidente, trazendo alguma esperança à situação trágica.
Aqui vai o soneto:

O milagre da vida
"Numa estrada genocida
Uma grávida tenta passar,
Uma van muito rápida
Não consegue a tempo parar.

Um jovem passando no local
corre para tentar salvar,
Mas o acidente é fatal
Ele não consegue ajudar

A placenta da mulher estava rompida.
Percebe-se então o milagre da vida,
Uma criança muito linda e forte.

A ambulância chega para levá-la
E mulheres brigam para adotá-la
A criança que sobreviveu a morte."

-Sarah Helena Vargas-

Sobre o acidente também foi escrita uma crônica:

A flor no asfalto - Otto Lara Resende

Conheço essa estrada genocida, o começo da Rio - Petrópolis. Duvido que se encontre um trecho rodoviário ou urbano mais assassino do que esse. São tantos os acidentes que já nem se abre inquérito. Quem atravessa a avenida Brasil fora da passarela quer morrer. Se morre, ninguém liga. Aparece aquela velinha acesa, o corpo é coberto por uma folha de jornal e pronto. Não se fala mais nisso.
Teria sido o destino de dona Creusa, se não levasse nas entranhas a própria vida. Na pista que vem para o Rio, a 20 metros da passarela de pedestres, dona Creusa foi apanhada por uma Kombi. O motorista tentou parar e não conseguiu. Em seguida veio outro carro, um Apolo, e sobreveio o segundo atropelamento. A mesma vítima. Ferida, o ventre aberto pelas ferragens, deu-se aí o milagre.
Dona Creusa estava grávida e morreu na hora. Mas no asfalto, expelida com a placenta, apareceu uma criança. Coberta a mãe com um plástico azul, um estudante pegou o bebê e o levou para o acostamento.
Nunca tinha visto um parto na sua vida. Entre os curiosos, uma mulher amarrou o umbigo da recém-nascida.
Uma menina. Por sorte, vinha vindo uma ambulância. Depois de chorar no asfalto, o bebê foi levado para o hospital de Xerém.
Dona Creusa, aos 44 anos, já era avó, mãe de vários filhos e viúva. Pobre, concentração humana de experiências e de dores, tinha pressa de viver. E era uma pilha carregada de vida. Quem devia estar ali era sua nora Marizete. Mas dona Creusa se ofereceu para ir no seu lugar porque, grávida, não pagava a passagem. Com o dinheiro do ônibus podia comprar sabão. Levava uma bolsa preta, com um coração de cartolina vermelha.
No cartão estava escrito: quinta-feira. Foi o dia do atropelamento. Apolo é o símbolo da vitória sobre a violência. Diz o poeta Píndaro que é o deus que põe no coração o amor da concórdia. No hospital, sete mães disputaram o privilégio de dar de mamar ao bebê. A vida é forte. E bela, apolínea, apesar de tudo. Por que não?


Boa semana!
bjkasss

2 comentários:

  1. Tão forte o soneto !
    Parabéns pelo blog e deixamos o nosso blog a disposição para uma visitinha, passa lá.
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